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Paulo Bertran Poeta

NO CORAÇÃO DO BRASIL

​

Solidão no coração do sul do planeta.
Em torno dezenas de léguas se estendem.
Eu estou só, absolutamente só
no interior do continente da América do Sul.

​

Não sei que ventos mais queria.
Talvez quisesse a maresia, aquela podre e ácida
do cais do Porto do Rio de Janeiro,
fecunda em miasmas do mar abstrato
e sei lá o quê, queria saber
como está você.

​

Queria saber por que quero saber de você.
Sem dúvida, à tarde, passarão mensageiros
para levar-lhe o meu estardalhaço e desencontro.

​

Passarão um, dois e dez mil. Não adianta.
Estou preso no coração do Brasil,
até não aguentar mais. E explodir.

​

Eu te amo, tonta. De explosão.

 

 

OS ATLANTES EM PIRENÓPOLIS

​

I

Estação d´águas bojudas
no seu tilintitar de índias goianas
ou das princesas sacerdotisas
de Bali, ou
daquele princípio ou precipício
que se abre no ar.

​

No ar de seus cabelos vegetais,
naquele tempo que virá,
dos cantos novos
escritos de la mano sinistra.

​

E de la destra.
Pirenópolis se ri ao sol:
capital dos Amores
no Planalto Central.

​

E de todos os mares de água ancestrais.
Berço das águas
subtraídas aos mares imemoriais
que vos lambem,
princesas Atlantes das gerações de Brasília.

​

II

De ti sei demais.
Os ares plurais
das pedras para-psíquicas.

​

Sacerdotisas e princesas,
lemes nas rotas
do Capitão Gavião,
o solitário lobo
que navega pelos
extintos cerrados
do sertão.

​

Saudades do Sertão,
saudades do matão,
saudades de ti.

​

Saudades de mim.

​

III

Feiticeira gente,
feiticeira cidade,
Meia Ponte de cruzar
águas na escuridão.

​

Ou o esquivo enigma
de arabescos tatuados
nas mãos.

​

Vencerão as Circes
ou as Penélopes nativas?

​

A cidade louca do Sertão,
Pirenópolis se ri ao sol:
capital dos Amores
no Planalto Central.

​

E o velho lobo lambe
insolações cósmicas
na absoluta ilha
Atlante
da Terra Brasilis.

​

IV

Não serão poemas arquétipos.
Tudo se reinventa
no cosmos mutante.
Ouçamos os novos signos
e as novas constelações.

​

O passado cruel e amigo
não suporta mais|
alucinações
de luz, muito mais luzes
do que suspeita
a limitada experiência humana.

​

Não existem Deuses ou Deusas,
e os tiranos que se arroguem
a representá-los
sofrerão, bons e maus,
da mesma corda no pescoço.

​

Meia Ponte Atlante
do grande Pireneus.
Eis que, eis que….
Sei lá o quê?
Mais luz, mais luz….
Constelações imprevistas.
Universos outros.

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